Advogada e escritora faz palestra sobre direitos humanos e clama pela conscientização da realidade
Carmela Grune critica quando o Estado é autor de violência e diz que deve haver coibição firme desses atos
Os direitos humanos como parte do cotidiano do cidadão comum foram o tema do almoço-palestra “Política de Antidireitos Humanos no Brasil”, ministrado pela advogada, jornalista e pesquisadora Carmela Grune, segunda vice-presidente da Academia Brasileira de Direito e fundadora do jornal “Estado de Direito”.
Promovido pelo Instituto de Advogados do Pará (IAP), o evento foi realizado nesta sexta-feira, 3, a partir de 12h15, em um restaurante da cidade. A especialista em Direito no Cárcere, de origem gaúcha, esteve pela primeira vez em Belém para expor um pouco de seus projetos acadêmicos e opiniões.
“Quando o Estado causa a morte de duas pessoas (Evaldo Rosa dos Santos e Christian Felipe Santana de Almeida Alves) depois do disparo de 80 tiros, como foi o caso no Rio de Janeiro, precisamos pensar que esse tipo de coisa não pode acontecer, que isso demonstra que não foi uma fatalidade. A primeira coisa seria tentar conter o carro e não atirar nas pessoas”, afirma a advogada. A violência cometida pelo poder público, para a ativista, ameaça a credibilidade das instituições. “Parte da sociedade legitima uma cultura antidireitos humanos, mas precisamos coibir de forma incisiva esse tipo de ação extremamente violenta”, defende Carmela.
A falta de consciência sobre a realidade brasileira, ainda segundo a advogada, deve ser o problema enfrentado para causar empatia nas pessoas em relação aos problemas sociais e ao combate à violência.
“A partir de uma análise de neurociências, o neurocientista português Antônio Damásio diz que se não temos consciência não temos como ter empatia. Então, as práticas de cidadania são fundamentais para que as pessoas se aproximem de realidades que, aparentemente, estão distantes dela, mas, na realidade, não estão”, reflete.
O presidente do IAP, Clóvis Malcher Filho, comemora a vinda da pesquisadora.
“O trabalho da professora Carmela sobre Direito no Cárcere é conhecido mundialmente. Nós já tínhamos intenção de trazê-la aqui para dividir conosco essa linda experiência que ela tem com os direitos das pessoas que estão presas no Brasil”, elogia.
Malcher já anuncia as próximas edições dos almoços-palestras.
“Traremos um professor da Faculdade de Direito de Brasília, em junho. No segundo semestre, teremos, nos meses de setembro, outubro e novembro, atividades que priorizarão os juristas do Estado do Pará. No primeiro semestre, tradicionalmente, trazemos pessoas de fora para dividir experiências diferentes”, explica.
Carmela Grune é autora dos livros “A Participação cidadã na gestão pública: a experiência da Escola de Samba de Mangueira” e “Samba no Pé & Direito na Cabeça”, ambos pela Editora Saraiva.